‘Que hipocrisia’, “O sorriso é uma máscara ou um manto que cobre uma multitude de dores.
Este é um dos trechos das cartas de Madre Teresa escritas três meses antes de receber o prêmio Nobel da Paz, em setembro de 1979.
As cartas demostram a discrepância entre o que sentia e aquilo que expressava e a constante luta de Madre teresa contra estes sentimentos de escuridão, solidão e tortura que surgiram após “ouvir a voz de Deus” engajando no cuidado dos dos pobres em Calcutá.
“Quanto a mim, o silêncio e o vazio são tão grandes que olho e não vejo, escuto e não ouço.”
Não somos diferentes de Madre Tereza diante da hipocrisia dos governos, da sociedade, dos indivíduos e das religiões na dualidade frente a situação da maioria dos povos do mundo.
Criamos a hipocrisia como a moral de permanência discrepante entre o que falamos, o que acreditamos e o que fazemos. A mente humana tem funcionado por muito tempo dentro deste padrão de condicionamento, obtusa e confusa. Nem os supostos santos escaparam de tamanha obscuridade.
Mais que cultuarmos santidades, é necessário uma mutação da mente. Isto significa uma relação inteiramente diferente desta que temos tido com qualquer dependência de santos e autoridades.
Um pensar totalmente diferente, livre da ansiedade, do medo, da dualidade e do conflito do vir a ser algo.
Nosso apego a qualquer tipo de autoridade é decorrente do medo do desconhecido, das incertezas que produzimos na sociedade, a fome, a miséria, a ganância, a dominação, o dogmatismo, a violência e a agressividade naquilo que chamamos de religião ou governos.
A perseverança de madre Teresa, apesar de todas as suas dúvidas, foi o seu ato mais heroico. Um heroísmo cultuado como imagem na continuidade da existência da fome. “Sinto que Deus não me quer, que Deus não é Deus e que ele não existe realmente.” Venha, seja minha luz. Continuamos alimentando a miséria adorando a imagem de Madre Teresa. Podemos transformá-la em santa, ou apenas naquela que alimentou os pobres. Apenas uma imagem! Venha, seja minha luz! Deixe a escuridão da sua miséria. Me faça acreditar que Deus existe nesta escuridão humana. Que Madre Teresa teríamos num mundo onde o problema da miséria foi solucionado? Qual imagem cultuaríamos? O livro Come Be My Light, que será publicado em Setembro para assinalar o 10.º aniversário da sua morte, mostra que essa crise esteve quase sempre presente nos últimos 50 anos da sua vida.