Declaração Universal dos Direitos Humanos
Artigo 3: Todos têm direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Thomas “Tom” Neuwirth (Gmunden, Áustria, 6 de novembro de 1988), mais conhecido pelo personagem Conchita Wurst, é um cantor austríaco que no papel de Conchita Wurst representou a Áustria e venceu o Festival Eurovisão da Canção 2014, em Copenhaga, na Dinamarca.
A seleção de Wurst gerou polêmica na Áustria, quatro dias depois de ORF anunciar a sua decisão, mais de 31,000 pessoas protestaram numa página “Anti-Wurst” no Facebook.
Em outubro, o Ministério da Informação de Bielorrússia recebeu uma petição para que BTRC, emissora de Bielorrússia, tirasse a atuação de Wurst do programa. A petição alegou que a atuação iria transformar o Festival “num viveiro de sodomia”. Em dezembro, uma petição semelhante surgiu na Rússia.
Com a polêmica por toda a Europa, Conchita ou Thomas tem despertado a fúria de muitos moralistas e machistas de plantão.
Em campanha nas redes sociais homens raspam a sua barba usando o argumento que “após o concurso, usar barba não representa mais masculinidade”.
O radialista russo Andrei Malakhov aderiu a campanha e disse que estava chocado com a vitória da austríaca.
Será que se Conchita não se apresentasse com a barba de Thomas teria causado tanta fúria?
Quem se traveste?
Conchita conseguiu desconstruir a simbologia da barba como um um símbolo de masculinidade por ser considerada um acessório exclusivo dos homens?
Por trás do personagem Conchita existe um Thomas. Quem usa a barba, Thomas ou Conchita?
A polêmica barba de Conchita mexe com arquétipos biológicos, sociais e religiosos que pedem um definição para que aja a dita tranquilidade individual e social.
Na sociedade existe apenas dois gêneros. Nas trincheiras do o masculino e do feminino socialmente aprendidas ainda não existem espaço para qualquer variação no comportamento, no fenótipo ou de orientação.
Este contexto social nos traz idéias prontas e pré-concebidas sobre o que é considerado comportamento feminino e masculino e a sexualidade considerada adequada ou não.
Este espaço se caracteriza pelos direitos humanos e sociais à existência, à expressividade, ao trabalho.
Biologicamente , a barba é considerada um caráter secundário masculino. A voz grave também.
Conchita rompe com estes padrões biológicos ao atuar de barba e com seu comportamento e sua voz excepcionalmente feminino. Ninguém criticou a sua performasse vocal e a mesma não despertou a ira masculina.
Àqueles que não tem tranquilidade na construção psicológica da sua sexualidade, e a fazem alicerçados apenas nos de esteriótipos secundários, diante da quebra do uso de padrões considerados masculinos ou femininos sentem o desconforto, a agressividade e até mesmo a irracionalidade.
Ao que parece a maioria da humanidade em toda a sua diversidade de orientação ainda sofre desta confusão. Qualquer comportamento que coloque isto em evidência gera comportamentos irracionais contra o outro da sua mesma espécie.
Os Transgêneros
Transgênero é um ser humano, uma pessoa que possui e/ou manifesta uma identidade de gênero diferente da que lhe foi atribuída à nascença. Podem optar por diversas formas de expressão da sua identidade de gênero.
Se pretender alterações anatômicas de carácter mais permanente recorrem a intervenções cirúrgicas e a tratamentos hormonais. O processo nem sempre implica uma redefinição integral de género («mudança de sexo»).
A identidade de gênero também é expressa através do vestuário e da cosmética (o chamado «travestismo»).
A Violência
Historicamente os seres humanos transgêneros sofrem o preconceito, discriminação e a violência, chamada de transfobia.
A transfobia é uma violência física, psicológica, e espiritual sobre os direitos humanos. Pode ser em decorrência da sua identidade de gênero e ou não necessariamente devido à sua orientação sexual, já que transgêneros tanto podem ser heterossexuais como homossexuais ou bissexuais.
Transgêneros que vivem em guetos e que não possuem alternativas no direito ao trabalho não causam tanta polêmica.
Psicologicamente, decorrente de todo este processo cultural também tenho minha dificuldades por não ter o convívio com indivíduos transgêneros. Mas, eles não me despertam o desejo, o medo e nem a violência.
Nem por isto acho que eu deva excluí-los do direito à um vida social nos padrões considerados humanamente dignos, a educação, o direito ao trabalho e as relações humanas.
Eu como ser humano, um profissional psicólogo, teólogo e barbeiro, digo que Conchita é bem vinda a Barbearia O Barbeiro para fazer a sua barba, seu cabelo ou mesmo tomar um café e dialogar acerca da sua experiência humana, do seu sofrimento e das suas alegrias como qualquer ser humano existente neste planeta.
Relações Libertárias
Talvez decorrente das proibições construídas sexualizarmos tanto as nossas relações que criamos um crivo social estranho a nós mesmos.
Neste contexto necessitamos de relações libertárias que não restrinjam apenas os padrões arbitrariamente instituídos como forma de controle social. Em maior grau nós humanos temos objetivos, sofrimentos e sentimentos comuns, a felicidade, as condições de trabalho, educação e alimentação. A sexualidade e a manifestação do ato sexual é apenas mais uma delas e não o prato principal.
E como temos criado estas condições? Através de todo tipo de opressão como qualquer animal irracional. Que tipo de relação contratual temos tido em nossas relações que envolvem a nossa sexualidade, o ato sexual e a construção da família? A que isto tudo tem servido? O mercado? A vida? O sofrimento e/ou ao individualismo social?
Construímos nosso paradigma da nossa sexualidade na manifestação do ato sexual como demonstração de posse e pertencimento na base de contratos moralista e exclusivistas numa única orientação. Temos muito que aprender nas nossas relações e orientações de troca neste imenso planeta terra onde vivemos.
Somos mais que pênis e vaginas e hormônios.
É possível vivermos a nossa sexualidade sem arraigá-la aos mundos hétero e homo facilitando a compreensão de que há uma infinidade de existências no caminho de uma à outra ponta?
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