Uma reflexão sobre a construção dos valores punitivos em seus aspectos jurídicos, morais, sociais, psicológicos e políticos como práticas que levam a construção do imaginário da população que ao buscar a justiça acaba confundindo-a como vingança.
Esta é uma das bases da lei que defende a pena de morte como fenômeno de exclusão definitiva.
A morte desde a construção na religiosidade humana é caracterizada como uma forma divina de punição, uma forma divina de eliminação daquilo que é considerado sem recuperação.
Neste aspecto dentro da punição divina, cabe tanto o aspecto físico quanto o psicológico. O evangelho prega a morte como uma instância divina de justiça e ao mesmo tempo de transformação.
Mesmo que em cada época os valores e crenças mudem de acordo com a insatisfação das pessoas, existe a credibilidade em certos conceitos que ao longo da nossa história não mudaram. São construtos tão arraigados em nosso pensamento individual e cultural que dificilmente serão alterados.
O uso da dinâmica do castigo e da punição mesmo tendo mudado as suas engrenagens de manifestação ainda encontra um grande mercado nas mídias, nas relações de poder, nas formas de controle dos governos e nas formas educacionais.
Se por um lado houve uma certa suavização dos castigos físicos, seu espetáculo e efeitos repressivos se observam nas encenações psicológicas de dor e de prazer na arte, nas religiões e nas nossas relações cotidianas.
O extermínio, as guerras e genocídios ainda é cogitado como solução para se combater o mal, a mesma visão maniqueísta do pensamento humano no que tange as nossas morais. Uma violência que se esconde sob a égide da justiça e que se confunde com vingança.
Para vivermos em sociedade ainda fazemos o uso do extermínio como método de defesa e preservação.
Esta tem sido a propaganda dos governos e de todas as nossas instituições políticas, religiosas, econômicas e da nossa psicologia individual. Esta tem sido a nossa visão pública como o mesmo delírio que reporta aos tempos antigos em que se castigava o corpo para contemplação do público.
A punição e a violência hoje é caracterizado pela cultura da sociedade privada.
As disputas pelo privado exacerbado pelo acúmulo que gera as desigualdades econômicas.
O privado se estende para as nossas relações de gênero, de afeto e sexualidade, do casamento, imitando as relações de poder que a classe dominante incute na psicologia individual. E dessa forma todos contribuímos para o sistema de exploração física e psicológica nas nossas relações individuais, coletivas, do trabalho e do afeto.
Cada indivíduo precisa fazer a sua reflexão nas suas relações que o leve à um desenvolvimento autônomo, consciente e capaz de transformar a sua relação com o seus direitos e deveres na composição da organização social.
Um ser consciente e capaz de não naturalizar e individualizar problemas sociais como a violência. Que seja atuante nas políticas públicas que minimizem as desigualdades sociais e promova a paz da organização social em que vive e se constitui.