O MAL DO AMOR
Independente da nossa orientação de gênero, da nossa orientação sexual, da nossa dinâmica familiar e social, as escolhas dos nossos vínculos afetivos se baseiam no mesmo modelo aprendido historicamente.
O modelo hétero normativo de propriedade privada que dita os nossos vínculos afetivos.
Estes vínculos estabelecidos têm como característica o aprendizado da dependência afetiva, onde o indivíduo tem o outro ou o objeto de sua relação como apoio, confiança e significado para a sua existência.
Esta forma relacional se caracteriza como uma referência disfuncional.
A construção deste modelo se dá desde o nascimento no aprendizado institucional familiar, relacionamento primário entre mãe e filho nas primeiras fases da vida, no modelo político do Estado e da propriedade privada, o modelo religioso no fundamentalismo de uma religião como única fonte da “verdade” e dependência do “Deus verdadeiro”.
Nossa educação não é feita de forma a nos tornar um indivíduo independente. Um indivíduo com saúde mental. Capaz de viver em suas relações consigo mesmo e com o outro em tranquilidade emocional e não dependência afetiva.
O mal do amor é apego, exagerado ou não que transforma o sentimento e os relacionamentos em problemas, gera mais sofrimento e gasto dispensioso de energia. Esta é uma das características humanas que abarrotam consultórios psicológicos. Este é um dos grandes fatores da dependência química e de outras dependências.
Determinar qualquer coisa como a razão única da nossa existência é a característica do comportamento afetivo disfuncional. Este tipo de vínculo presente nas nossas relações com objetos, pessoas, símbolos, religiões e Estado nos torna subjugados. Transforma nossa vida psicológica, física e mental numa total escravidão.
Todo processo educacional deve dar recursos técnicos, psicológicos e físicos visando a maturidade do indivíduo. Dessa forma o indivíduo pode contribuir com a sociedade sem ser colocado ou colocar-se na posição de vítima, dependente de quaisquer fatores que venham torná-lo infantilizado em suas decisões.
O processo educacional de equidade afetiva não visa transformar os objetos primários de afetos em uma necessidade compensatória das suas faltas. Esta seria uma forma patológica de dependência afetiva emocional.
A educação hétero normativa presente em todas as nossas relações afetivas, independente da nossa orientação de gênero, dos nossos vínculos hétero, homo, bi ou trans é a mesma no que concerne o desejo primário de posse e transferência das nossas aspirações infantis embasadas pelo amor recebido ou não em nosso modelo sócio-familiar de origem. Queremos a posse e o direito sobre o outro.
Nestes casos os desfecho é sempre a mesma frustração, o conflito diante do aprendizado desta fantasia. Uma educação à imaturidade. Este tipo de imaturidade que gera o comportamento de servidão em relação as figuras de autoridade a nós apresentadas pelo poder dos país, da religião, do Estado.
O mito da nossa perda de conexão com o universo, com deus, e a busca deste estágio sublime já em si o fenômeno do nosso estado de doença.
A saúde em relação a construção do nosso eu nos dado fragmentadamente por esta crença inconsciente.
Já nascemos sem a possibilidade de sermos nós mesmos neste condicionamento estrutural de dependência emocional e busca de segurança psicológica.
Isto tem sido a base das sociedades paternalistas. Cria-se assim a fragmentação e depois na ideologia a busca de uma “união total”, uma identificação plena e irracional.
Prega-se esta universalidade como sendo um desejo natural que todos têm. As formas apresentadas na solução desta problemática são fragmentadamente e inconscientemente através do sexo, da religião, das drogas, do outro, formas superficiais que apenas geram a dependência afetiva. Formulas de falsas experiências intensas.
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