A PESCA DE CURRAL DE JOSÉ SARNEY
“Achei que a literatura fosse o meu destino.”
José Sarney estreou muito moço como poeta e ensaísta, muito influenciado pela descoberta da poesia moderna portuguesa. Em 1953, publicou Ensaio sobre a Pesca de Curral.
Uma arte milenar criada pelos índios, a Pesca de Curral tem se aprimorado a cada ano. Os currais constituem grandes cercados com desenhos particulares. O mais importante é que sejam instalados na posição exata em função das correntes de marés. Os peixes que seguem as correntes são interceptados. Ao tentar escapar são dirigidos para o interior da armadilha. Ai reside a ciência do curral.
O pescado atraído pela sombra das varas de madeira que compões o curral ao entrar nele não consegui mais sair. É despescado na maré baixa. O peixe capturado em um curral de pesca é um peixe de melhor qualidade.
Para manter os peixes no curral existem precauções que devem ser observadas. Os sedimentos do fundo também se deslocam em função das marés. “O curral cava”, como dizem os pescadores. As esteiras podem se elevar em relação ao nível do solo, permitindo que os peixes escapem. É necessário colocar folhagens, saco com pedra, etc. E esta medida deve ser tomada durante toda vida ativa do curral.
José Sarney, peixe de qualidade literária, capturado pelo curral de Brasília, nunca mais saiu. Tornou-se um grande líder do curral.
Com as mudanças das marés, foi o primeiro Governo civil após o movimento Militar de 1964. É o mais longevo político da atualidade brasileira.
Sarney, peixe grande que organiza a armadilha de Brasília poderia publicar grandes ensaios sobre a Pesca de Curral de Brasília. Afinal é o acervo vivo da História do curral de Brasília. Temos muito que aprender com este homem que consegue resistir firme neste curral, tergiversar e atrair grandes pescados.
A trajetória desse notável senador merece destaque: começou na UDN, foi para a Arena, depois para o PDS, dali para o PFL que virou DEM e hoje tá aportado no PMDB.
Não o antigo MDB dos saudosos Ulisses, Covas, Tancredo, Teotônio Vilela, do resistente Pedro Simon. É outro, PMDB criado pra vender a sigla e o apoio a quem der mais. E Sarney se encaixa direitinho neste curral.
E tem muitos mais detalhes. Até ser Presidente da República, Sarney era eleitor do Maranhão. Quando saiu, para não contrariar companheiros, virou eleitor do Amapá e por lá foi eleito e reeleito Senador.
O filho de Sarney pertence a um partido de esquerda, e sua filha a outro partido, assim estão sempre no poder.
Entendedor da cultura do seu estado do Maranhão, do tupi, grande mar que corre, que pode bem simbolizar este grande Brasil neste emaranhado de sua diversidade e mentiras bem engendradas. E não foi por mero acaso do destino que Sarney soube tecer as armadilhas da política brasileira, se mesclar, e como parte da nossa história brasileira, tornar o que que é hoje.
Como diz Reinaldo Azevedo
Sarney nunca foi oposição a nenhum presidente da República: apoiou tudo que lhe interessou, da ditadura, e em sua pesca de curral foi pulando de barco até firmar a improvável aliança com o PT de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Passageiro de um comboio e beneficiado pelo acidental é um caso típico que assombra a teoria, da Fortuna descasada da virtù.
” Sarney foi usuário do regime ditatorial e, porque é Sarney e soube trair os seus na hora certa, acabou como um dos principais beneficiários da democratização.”
E “sarneys” continuam em cena no continuísmo de nossa política atual de coronéis de donos do Brasil em seu projetos de poder a longo prazo.
E todos em seus sistemas de aprendizado sabem utilizar muito bem da pesca de curral. Contraditoriamente as suas ideologias, como sofredores do regime ditatorial usam dos mesmos mecanismos ao chegarem ao poder.
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