LOUCO É ‘NÃO EU’
Identificar o outro como louco abre um campo de abuso de poder, intolerância e violência.
As culturas sociais determinam os parâmetros tanto da normalidade quanto do que é categorizado como anormal.
No trabalho do filósofo Michael Foucault (1926-1984), a História da loucura na Idade Clássica, o termo “loucura” é a desqualificação do outro. A desqualificação como marco diferencial em relação ao que define a identidade de uma pessoa e até mesmo de uma cultura.
O nosso pensamento ainda funciona nos moldes da imagem, e da comparação, e tudo que não reconhecemos como parecido ou dentro do nosso padrão é taxado como anormal.
Este é um tipo de mecanismo condicional presente em toda humanidade, e serviu como meio de sobrevivência.
O uso do termo “louco”, ou “loucura” pode funcionar de diversas formas, dependendo da imagem que criamos em relação àquilo que consideramos fora da normalidade.
E hoje, num mundo extremamente capitalista, não observamos as “loucuras” que somos obrigados a fazer em relação a sobrevivência do mercado.
Mas, o louco nunca sou eu.
E a forma dos padrões de “normalidade” a nós apresentado são carregados da moralidade que julga e determina o que é “normal”.
Sob o amparo de uma “lei natural”, uma natureza não construída pelo pensamento humano. O pensamento humano se apresenta sempre como natural no sentido de não ser construído, como se sempre existisse e fosse irrefutável e ainda como se não fosse ele que estivesse fazendo este processo.
E nos travestimos de personagens que são modificados a medida que temos o feedback social na cultura da normalidade. E chamamos de insensato aquele (ou aquilo) que não entendemos, que não atribuímos “sentido”, que não conseguimos fazer as relações.
Mas, a partir do momento que nomeamos, temos a posse do fenômeno e consequentemente a imagem da tranquilidade. Desta perspectiva, é comum que quando surge a denominação de louco sejam acionados mecanismos de exclusão simplesmente porque uma pessoa (ou um grupo) pensa de forma radicalmente diferente da nossa ou não compartilha nossos valores morais ou religiosos.
Identificar o outro como louco é abrir um campo de abuso de poder, intolerância e violência.
Diferentemente do ato, ou do comportamento visível, a humanidade tem que aprender que ela criou um mundo da dualidade entre a ideia e o fato. Será que nós humanos somos tão diferentes assim? O que nos diferencia são esteriótipos linguísticos, estéticos, religiosos, sexuais, servidos num baquete multifacetado ou sobre o prisma da nova moral da diversidade humana que em essência a finalidade é a mesma. O que todos queremos?
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