O Dia de Finados – Refletindo a Morte e a Vida.
Temos muita resistência em falar sobre a morte devido a nossa cultura e aprendizado sobre o tema. Mas, o Dia dos Fiéis Defuntos ou Dia de Finados está ai sendo celebrado no dia 2 de novembro. Um costume desde o século II onde alguns cristãos visitavam os túmulos dos mártires para rezar pelos que morreram.
Refletindo a morte em vida.
A morte física é a nossa única certeza. Se lembramos desta inevitabilidade podemos usar nossa vida de modo mais significativo. Ampliando o conceito do morrer veremos que a morte é o nosso maior fator de mudança.
Morrer Para Frutificar
Morrer Psicológico
Segundo psiconautas, místicos, xamãs, monges, psicólogos e interessados em explorar as profundezas da mente a morte do ego é a experiência que revela o seu aspecto ilusório.
Todos os ensinamentos tradicionais ou não sobre a iluminação (Nirvana, Budismo, Moksha, Jainismo), bem como várias drogas psicodélicas podem induzir esse estado, tais como o LSD, a Salvia divinorum, a dimetiltriptamina, a psilocibina, a 2C-B e o cloridrato de cetamina.
O trabalho da morte psicológica é antiquíssimo e sempre foi ensinado à humanidade pelos vários Mestres ou Avataras que vieram para instruí-la, mostrando-lhe os meios para acabar com seus próprios sofrimentos e limitações.
Jesus Cristo (o mais exaltado de todos), Buda, Quetzalcoatl (O Cristo asteca), Hermes Trismegisto no Egito, Krishina entre outros.
Cada um ensinou a mesma doutrina, porém adaptada ao seu tempo, com seus próprios termos e símbolos.
Infelizmente quando o Mestre parte, os homens, manipulados por seus próprios egos, começam a distorcer a doutrina e pouco a pouco o principal se perde ou é oculto da humanidade.
O ego.
O ego, nosso fundo, a nossa memória, nossa cultura, a soma de nossos muitos defeitos psicológicos que vivem em nosso mundo interior. O resultado de toda memória humana criada que alimenta nosso inconsciente sendo alimentado por nós mesmos, nutrindo os centros da nossa máquina humana.
O ego é realmente a causa de nossos sofrimentos, inconsciência, erros, vícios, medos, fraquezas, etc.
Morrer psicologicamente sem argumentação
Você sabe o que psicologicamente entrar em contato com a morte, significa morrer sem argumentação? Porque a morte psicológica ou biológica, quando chega, não argumenta com você, ela acontece.
Para encontrá-la, você tem que morrer psicologicamente todo dia para todas as coisas, para sua agonia, para sua solidão, para a relação a que você se prende, você tem que morrer para seu pensamento, morrer para seu hábito, morrer para sua esposa de modo que possa olha-la sempre de forma nova. Você tem que morrer para sua sociedade de modo que você, como ser humano, seja sempre mentalmente novo, viçoso, jovem, e você pode fazer isso, ao morrer psicologicamente.
Esta é a verdadeira e real morte do ser ideológico identificado, você não pode encontrar a morte psicológica a não ser que morra todo dia, a cada instante. Só quando você, o ego, morre existe o amor! Uma mente que tem medo não tem amor, ela tem hábitos, tem simpatia, ela pode se forçar a ser gentil e superficialmente atenciosa. Mas o medo gera sofrimento, e sofrimento é tempo psicológico como pensamento.
Então, encerrar o sofrimento é entrar em contato com a morte psicológica enquanto se está vivo, morrendo para seu nome, para sua casa, sua propriedade, sua causa, de modo que você esteja viçoso, jovem, lúcido, e possa ver as coisas claramente como elas são sem nenhuma distorção da intervenção do conteúdo mental condicionado. É isso que vai acontecer quando você morrer psicologicamente.
Mas nós temos uma morte limitada ao físico. Sabemos muito bem logicamente, sensatamente, que o organismo vai se desgastar chegar ao fim. Então nós criamos, inventamos uma vida onde vivemos com agonia diária, insensibilidade diária, que aumenta os problemas, e sua estupidez.
Essa vida nós queremos transportar, no que chamamos de “alma”, que dizemos ser a coisa mais sagrada, uma parte do divino, mas ela faz parte ainda de seu pensamento e, portanto, nada tem a ver com divindade. É sua vida!
Então a pessoa tem que viver todo dia morrendo porque, então, você está em contato com a morte psicológica. E este estado mental se chama conscientização, onde a consciência humana vive sua plenitude desprovida do artificio ideológico da identificação psicológica.
J. Krishnamurti, The Book of Life
http://jkrishnamurti.org/…/kr…/view-daily-quote/20140303.php
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TIC-TAC DO FIM
Imagine se fosse tivesse sempre presente em sua mente a ideia do tempo de vida que lhe resta. Como isso mudaria sua vida?
Parece que esta é um das nossas diferenças em relação a outras espécies de animais. Temos consciência da nossa morte.
Segundo Schopenhauer, ao contrário do homem, o animal vive sem conhecer a morte. O indivíduo do gênero animal goza plenamente toda a imutabilidade da sua espécie, ao não ter consciência de si senão como ser imortal.
Mesmo a morte como fonte de dramas, interrogações, medo, angústia e revolta no espírito humano não foi fator determinante para que nós humanos desfrutássemos a vida de maneira menos problemática. Produzimos muita morte e sofrimento. E os moralismos religiosos que tentaram equacionar este medo também não deram conta do comportamento moral do homem.
Continuamos seres apegados ao passageiro, ao poder, ao lucro em detrimento de proporcionar uma melhor qualidade de vida para a humanidade. E a morte é um grande mercado, apesar de a criminalizarmos. Vive bem o homem que conseguiu resolver a sua mortalidade. Que percebeu a mutabilidade da vida, das ideias, do pensamento.
Somos tanto um ser para a morte como para a vida. A nossa qualidade de vida determinará a nossa qualidade de fim. E a morte é o evento mais temido e menos discutido. Viver bem significa morrer a todo tempo, em todas as nossa perspectivas de pensamento, de fundamentos, e de ilusões.
A morte é inegociável. A vida não é.
A vida é o que você faz dela.
Longo, se tem que morrer, morra agora para todas esta bobagens e valores aprendidos que apenas tiram a qualidade da sua vida e dos seus semelhantes. Morra para o ciúme, o medo, a avareza, a posse. Morra para o tempo.
Tikker é um relógio com uma contagem de tempo de certa forma diferente. Ele faz a contagem regressiva para morte do usuário. Para saber a hora exata da “passagem”, o usuário deve preencher algumas informações sobre seu histórico de saúde. Mortes trágicas, como acidente, por exemplo, obviamente não são previsíveis pelo novo produto. Segundo Fredrik Colting, idealizador do Tikker, a ideia é fazer com que o usuário aproveite melhor o tempo que lhe resta. E aí, vai comprar o seu?
Quem sabe se tivermos esta consciência presente não mudamos muito dos nossos padrões de existência, perdendo tempo com bobagens e sentimentos contraditórios de amor e ódio que apenas produzem o sofrimento.
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A DESCRIMINALIZAÇÃO DA MORTE
“Deixa os mortos sepultar os mortos” (Lucas 9:60)
O homem vive no tempo e a invenção do futuro é o seu jogo favorito de fuga.
Adiamos a morte porque adiamos a vida.
Os nossos problemas e sofrimentos se situam no nosso processo do vir a ser.
Por não vivermos no presente, aprendemos que a morte é algo no futuro.
Por desejarmos à permanência a morte se tornou nossa inimiga.
Por acreditarmos na culpabilidade, a morte se tornou a sentença e o carrasco da vida.
Por acreditarmos no perdão a morte se tornou a porta de entrada do paraíso.
Por necessitarmos de espaço e renovação, a morte é a operária da transformação.
Por termos o pensamento fragmentário separamos a morte da vida e lhe rendemos homenagem separadamente.
Tememos a morte por que tememos o novo.
A padronização, o conforto do supostamente conhecido nos dá a ilusão da segurança, por mais nociva que seja a sua realidade no cotidiano da vida.
Experimentar o diferente nos trás a culpa decorrente da crença na infidelidade para com o usual. Não precisamos cometer suicídio físico, a morte é uma programação da vida. Mas quantas vezes não passamos pelo suicídio emocional no processo de autocompaixão pelo egoísmo da permanência.
A morte se torna um problema, pois nosso pensamento em sua imagem a transforma num problema.
A imagem da perda, a imagem do passado, a memória ruminando na lamentação, o pensamento girando na continuidade do tempo.
E o pensamento cria todo tipo de misticismos e crenças como solução ao desconhecido. Gastamos mais energia na manutenção da memória do que na criação do novo. Sofremos por não querermos perder e culpamos a morte.
O programa de memória do eu tem medo da morte, pois acredita que a mudança de paradigma é o seu fim.
A vida como um costume pode se transformar num sepultamento vivo e levar ao desespero do novo, transformando a morte em uma porta de libertação.
Não devêssemos temer e criminalizar a morte, mas a violência para com a vida.
E a morte em uma sociedade de consumo é o grande nicho de mercado. A abusiva violência do valor que os produtores dos rituais do fim praticam, mas isto é outro caso.
Quando separamos o viver e o morrer criamos um intervalo de tempo que gera o medo. Então tenha uma boa vida e uma boa morte.
Nossa mente deve morrer todos os dias psicologicamente para abrir espaço ao novo. Saiba viver e morrer. Tudo que existe está fadado ao fim que é o começo.
“Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer produz muito fruto” (João 12.24)
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