AURORA
Todas as coisas que duram muito tempo se impregnam de razão.
É necessário observarmos a origem da razão. Mas, quando observamos a origem da razão moral do homem, observamos com espanto o que sempre nos foi dito. Toda nossa razão nasceu da desrazão. Mas, por que demos tanta razão a algo nascido da irracionalidade? A submissão às leis da moral nada tem de moral.
Ela pode ser provocada pelo instinto de escravidão, de vaidade, de egoísmo, pelo fanatismo, pela inflexão ou resignação.
Não é porque um cachorro fica acorrentado perto do seu dono que ele é o seu melhor amigo.
As relações sociais se dão mais pelas amabilidades morais que pela moral propriamente dita.
Na moral das leis e dos costumes teoria e prática ainda é um problema. Esta moral humana que dura há muito tempo já possui sua defesa impregnada pela memória do tempo, da sua própria origem.
Ela se coloca nos status divino. Ir contra a moral é ir contra Deus. E quanta vaidade há na adoração a Deus! E quanta escravidão há na adoração a Deus! E quanto fanatismo há na adoração há Deus! E quanto egoísmo há na adoração a Deus!
O ato de desespero como submissão à autoridade de um soberano, em si, nada tem de moral.
O que é conservar a liberdade intelectual? O tu deves. E vivemos uma época de grandes dívidas.
A moral da amabilidade comparativa e a bondade para comparar as divergências das nossas opiniões com os outros. Isto é considerado pelos homens um pouco independentes, não somente como admissível, mas também como “honesto”, “humano”, “tolerante”, “nada pedante” e quaisquer que sejam os temos que se usa para adornar a consciência intelectual: e é assim que um tal faz batizar cristãmente seu filho apesar de ser ateu, o outro cumpre os serviço militar como todos, embora condene severamente o ódio entre os povos, e um terceiro se apresenta à igreja com um mulher porque ela é de piedosa família e faz promessas diante de um padre sem sentir vergonha de sua inconsequência.
Esta é nossa sociedade política e polida. Milhões de rituais vazios, de reuniões obsoletas, de planos inconclusivos, de belos projetos Titanic. O no Titanic morreram tanto a burguesia, quanto a plebe que sonhara uma nova terra prometida.
E ainda estamos sonhando. Mas, a tecnologia é o nosso novo Titanic e não podemos naufragar.
No grande silêncio, a razão ulterior é que, se agimos de forma moral não é porque somos morais.
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