RELAÇÃO
O que é relacionamento? Você já ficou totalmente só?
Estar relacionado significa não depender do outro,não tentar escapar da própria solidão por meio do outro, não tentar encontrar conforto, companhia por intermédio do outro. Quando isto acontece o relacionamento é usar mutuamente. Para que isto não ocorra temos que resolver o problema que criamos a respeito da solidão.
A maioria dos relacionamentos estão fadados ao cansaço e ao fim e sofrimento decorrente deste aprendizado que adquirimos desde a mais tenra idade. Nossa educação familiar necessita orientar a criança e o jovem a emancipação emocional em todos os níveis a que ele se destina. As significâncias, as fantasias orientadas não à dependência e a colocação do bem estar e da felicidade na dependência emocional de qualquer objeto ou ser. Ai teremos uma verdadeira relação e não um estado de suporte para a vida.
haveria um meio de existirmos e de vivermos na qual não usemos o outro psicologicamente nem emocionalmente, não dependendo do outro como válvula de escape das nossas próprias torturas, dos nossos próprios desesperos, da nossa própria solidão? Compreender isto é a compreensão do significado do que é ser solitário.
Até resolvermos por completo o nosso problema da solidão, dessa sensação profunda de isolamento nossos relacionamentos assumem o caráter de um meio de fuga levando à compulsão e a angústia.
A compreensão da nossa solidão é a percepção sem fugas de todas as nossas ações e movimentos que giram em torno de nós mesmos.
Temos que observar a nós mesmos sem conflitos ou julgamentos, pois todo conflito é a corrupção e perda de energia.
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ACERCA DA SOLIDÃO
O sentimento de solidão é comum todos nós humanos.
Como todos os nossos sentimentos a solidão é aprendida. É uma das forças que nos mobiliza à busca do outro e de nós mesmos.
Da solidão nasce o desejo de interação, da união, da construção de família, do surgimento das tribos, dos “rolezinhos” e todas as nossas atividades sociais.
Enquanto não colocarmos nossa total atenção neste sentimento não resolveremos tal estado. Como diz Fernando Pessoa, para viver a dois é necessário ser um.
O sentimento de solidão, a sensação condicionada deste estado nos é dada culturalmente.
Mesmo na mais íntima relação pessoal temos este sentimento de estar só. Podemos nos engajar em eventos ou relações de intensa intimidade afetiva e ainda nos sentirmos solitários.
A vida coletiva não resolve o sentimento de solidão. Mesmo no interior de grupos o sentimento de solidão pode ser muito intenso, por maior que seja o grupo. A sensação de incompletude.
As religiões moldam este aspecto colocando o homem neste mundo em um estado de busca perene. A sensação de estrangeiro, de separado de um mundo superior na simbologia de uma terra prometida.
Esta sensação de inadequação também pode ser encontrada nos mitos, folclores, lendas e contos infantis de tradição popular na busca por uma transformação, por um eldorado, por uma utopia ou estado que dê fim a este sentimento de solitude.
Em graus mais exacerbados é um sentimento característicos de certas doenças psíquicas.
E por não observarmos de onde provém todo este aprendizado, acreditamos ser algo extraterreno.
Creio que não sabemos o que é a solidão estando constantemente ocupando a nossa mente com coisas, com o passado, com lembrança, aderindo movimentos, atendendo pedidos nossos e dos outros. A mente tagarela como uma forma de fuga deste sentimento.
Pode a nossa mente passar por este estado sem julgamento? Sem o medo do abandono, do sentimento de ser um estado horrível? Sem o nervosismo ante a crença de estar em insegurança?
Para que a mente fique inteiramente livre de conflito, medo e ansiedade é necessário experimentar esse extraordinário sentimento de não relação com alguma coisa.
É este estado de não relação que provém o sentimento de solidão. O que é uma ilusão, pois ninguém consegue se imaginar num estado de nada, de não relação, de não contexto.
Tanto a sensação de solidão, quando o estado de solidão é uma ilusão do pensamento. E este sentimento é utilizado no doutrinamento de escravidão e dependência.
O medo não é algo abstrato. Ele só existe em relação específica com alguma coisa, alguma crença, com o fato, sendo ele mesmo um fato.
Quando entramos no sentimento de solidão sem o condicionamento do medo, este sentimento de solidão onde não há medo, conflito, o imensurável acontece e isto tudo desaparece.
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SOZINHO NÃO SOLITÁRIO
Crescemos aprendendo que estar sozinho, sem um casamento ou um relacionamento romântico é algo prejudicial, ruim e perigoso. Para a maioria dos condicionados pelos valores familiares tradicionais, o solteiro representa um perigo. “Antes mal acompanhado do que só”. Estar só é sinônimo de solidão. Ficar para “titio” é visto com um certo preconceito. A projeção da felicidade é o aprendizado do dever de encontrar a tal “alma gêmea” a qualquer custo. Na realidade a maioria se depara mais com a necessidade do outro como a solução dos seus problemas, do que a realidade do compartilhar a vida de forma saudável, o que significa o estabelecimento de relações sem o crivo de quaisquer dependência.
Todo o nosso aparato educacional em todas as suas instâncias é feito de forma a causar a total dependência física, sentimental, psicológica e material. O aprendizado da auto-satisfação é tido como prejudicial, afinal a primeira lei é que somos seres sociais e dependemos do outro para a total sobrevivência. A contradição é a criação de uma sociedade altamente exploratória do individual para a própria sobrevivência da sociedade.
É mais fácil explorarmos o outro do que nos tornarmos auto-suficientes sem a escravidão alheia. E auto-suficiência é vista como perigo, já que os exemplos que possuímos são de indivíduos que exploram e escravizam a maioria.
No geral, aquilo que denominamos “amor” é o estabelecimento de vínculos de exploração e dependência afetiva, psicológica, espiritual, financeira e física nas relações cotidianas. Formas exacerbadas de um capitalismo ferrenho em todos os nossos níveis de relações.
E destas relações de poder nascem o sofrimento dos indivíduos e a corrupção social em todas as suas esferas.
O homem é o animal que demanda mais tempo de dependência das relações familiares. E esta temporalidade de dependência se estende por todas as relações do indivíduo projetadas na base da construção de outras relações sociais. Isto observamos na figura do Estado como responsáveis pelo indivíduo e as suas políticas de dependência. Nas figuras religiosas de um Deus como pai, um pastor que cuida das ovelhas, de um Papa como pai, uma Maria na representação de mãe. E mesmo nas relações de trabalho das figuras de autoridade que não demandam autonomia para o indivíduo, e ainda usam dos mecanismos de punição/reforço patriarcais. Supostas seguranças que pagamos caro e não temos.
Este mesmo construto se estabelece nas relações românticas na formação de famílias necessárias à manutenção do feed back do mesmo sistema. E não importa que tipo de relação, aparentemente tão diferente, na escolha das parcerias homo ou hétero afetivas. A base aprendida ainda é a mesma, mudando apenas o esteriótipo físico da união. Hoje a discussão do que é a família e a busca do reconhecimento de diferentes formas de vínculos familiares na base jurídica também é a garantida destas mesmas condições de dependência.
O médico psiquiatra Flávio Gikovate ataca o romantismo e defende o individualismo, após acompanhar a constituição das famílias contemporâneas e os fatos mais marcantes que mudaram a sexualidade no Brasil e no mundo, por meio de mais de 8.000 pessoas atendidas. Suas reflexões sobre o amor ao longo de esse tempo foram condensadas no seu livro, Uma História de Amor… com Final Feliz. Na obra, a oitava sobre o tema, Gikovate ataca o amor romântico e defende o individualismo, entendido não como descaso pelos outros e sim como uma maneira de aumentar o conhecimento de si próprio. Tendo sido um dos primeiros a publicar um estudo no país sobre sexualidade, atuou em diversos meios de comunicação, como jornais e revistas e na televisão.
“Os solteiros que estão mal são os que ainda sonham com o amor romântico. Pensam que precisam de outra pessoa para se completar. Como Vinicius de Moraes, acham que que ‘é impossível ser feliz sozinho’. Isso caducou. Dai, vivem tristes e deprimidos.”
O momento é para cada um buscar a auto-reflexão, o seu auto-conhecimento e a criação de vínculos de compartilhamento da vida, de criação de um sistema mental, físico, psicológico e espiritual de não dependência do outro do forma como de exploração em todos os níveis.
Conhecer você é o conhecimento das suas relações. Nosso conhecimento é relacional, afinal o que somos são as sombras do contexto em que estamos inseridos. Seja luz para si mesmo e não mais uma sobra no todo.
Reforçando as palavras de Gikovate, não confunda individualismo com egoísmo e descaso pelos outros. O individualismo corresponde a um crescimento emocional. “Quando a pessoa se reconhece como uma unidade, e não como uma metade desamparada, consegue estabelecer relações afetivas de boa qualidade. Por tabela, também poderá construir uma sociedade mais justa. Conhecem melhor a si próprio e, por isso, sabem das necessidades e desejos dos outros. O individualismo acabará por gerar frutos muito interessantes e positivos no futuro. Criará condições para um avanço moral significativo.”
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