AURORA
Todas as coisas que duram muito tempo se impregnam de razão.
É necessário observarmos a origem da razão. Mas, quando observamos a origem da razão moral do homem, observamos com espanto o que sempre nos foi dito. Toda nossa razão nasceu da desrazão. Mas, por que demos tanta razão a algo nascido da irracionalidade? A submissão às leis da moral nada tem de moral.
Ela pode ser provocada pelo instinto de escravidão, de vaidade, de egoísmo, pelo fanatismo, pela inflexão ou resignação.
Não é porque um cachorro fica acorrentado perto do seu dono que ele é o seu melhor amigo.
As relações sociais se dão mais pelas amabilidades morais que pela moral propriamente dita.
Na moral das leis e dos costumes teoria e prática ainda é um problema. Esta moral humana que dura há muito tempo já possui sua defesa impregnada pela memória do tempo, da sua própria origem.
Ela se coloca nos status divino. Ir contra a moral é ir contra Deus. E quanta vaidade há na adoração a Deus! E quanta escravidão há na adoração a Deus! E quanto fanatismo há na adoração há Deus! E quanto egoísmo há na adoração a Deus!
O ato de desespero como submissão à autoridade de um soberano, em si, nada tem de moral.
O que é conservar a liberdade intelectual? O tu deves. E vivemos uma época de grandes dívidas.
A moral da amabilidade comparativa e a bondade para comparar as divergências das nossas opiniões com os outros. Isto é considerado pelos homens um pouco independentes, não somente como admissível, mas também como “honesto”, “humano”, “tolerante”, “nada pedante” e quaisquer que sejam os temos que se usa para adornar a consciência intelectual: e é assim que um tal faz batizar cristãmente seu filho apesar de ser ateu, o outro cumpre os serviço militar como todos, embora condene severamente o ódio entre os povos, e um terceiro se apresenta à igreja com um mulher porque ela é de piedosa família e faz promessas diante de um padre sem sentir vergonha de sua inconsequência.
Esta é nossa sociedade política e polida. Milhões de rituais vazios, de reuniões obsoletas, de planos inconclusivos, de belos projetos Titanic. O no Titanic morreram tanto a burguesia, quanto a plebe que sonhara uma nova terra prometida.
E ainda estamos sonhando. Mas, a tecnologia é o nosso novo Titanic e não podemos naufragar.
No grande silêncio, a razão ulterior é que, se agimos de forma moral não é porque somos morais.
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BENS POSICIONAIS E BENS RELACIONAIS
O consumo é a atividade que consiste na fruição de bens e serviços pelos indivíduos, pelas empresas ou pelo governo, e que implica a posse e destruição material, no caso dos bens ou imaterial no caso dos serviços.
Constitui-se a fase final do processo produtivo, precedido pelas etapas da produção, distribuição e comercialização.
O que as pessoas devem consumir?
Se continuarmos nesta fome de consumo terá que haver mais quatro planetas.
A concepção ideológica do consumo diante de bens materiais levou o homem empreender grandes viagens, e, é a mesma concepção que o leva ao espaço. Os rituais frenéticos em Shopping nascem do desejo e das propagandas que incentivam o ritual de compras.
A simplicidade não é mais o que somos, mas o que compramos.
As nossas relações sociais são mediadas por objetos materiais.
O consumo visto de uma maneira perversa é histórico. Será que nossa relação com os bens materiais diminuiu a nossa humanidade?
O nosso bem estar dependente apenas da mensuração do crescimento econômico.
Produção e consumo é parte da sociedade e deve ser repensada no âmbito do consumo. A cadeia do consumo gera empregos, seria esta a virtude?
Mas e os recursos no mundo, a natureza da conta? Devemos ser ensinados a comprar? Negar o prazer foi sempre uma filosofia. Na década de 20 as pessoas começaram a se ver como consumidores. E o capitalismo exige que os negócios se expandam. O vício da compulsão ao consumo está se espalhando pelo mundo. E os que chegaram recentemente Brasil, as classes B e C não pensam diferente das demais classes consumistas.
O mercado deve repensar o que é necessário e não inventar necessidades de consumo.
Os governos, a sociedade, as indústrias devem repensar o seu endividamento físico, psicológico e com o planeta. O endividamento como qualidade de vida, moradia, saneamento básico, educação, que são formas de riqueza e geram riqueza. A indústria não tem mais a concepção de produzir bens duráveis. Estes já nascem com o prazo de validade vencido. Temos que gerar bens posicionais e mudar a nossa relação com os bens materiais. Bens posicionais e relacionais são grandes bens materiais. Menos é mais.
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O PENSAMENTO E A MEMÓRIA
A lembrança como comparação nos impede de vermos algo totalmente novo.
A memória interferindo no presente sempre cria o passado.
O organismo passa a funcionar com base neste passado mnemônico, consequentemente sempre se repetindo. Assim tem sido a função do nosso pensamento, a manutenção.
A constante repetição de um padrão. Isto gera o desgaste da mente se tornando embotada e sobrecarregada.
Seria possível após experimentarmos a dor, o prazer, a beleza, ou qualquer advento psicológico não transformarmos em uma imagem e a transportarmos armazenando-a no pensamento?
Quando fazendo da lembrança uma imagem ela se torna objeto do pensamento. Sendo um objeto funciona como uma posse, um apego. Mas, nesse processo ela não é mais a coisa vivida. E tentar gerá-la novamente no presente pode levar a frustração.
Durante todo o processo de vida a humanidade gasta mais energia na manutenção da memória do que vivenciando algo totalmente novo.
As coisas vão fenecendo e vamos criando novas formas de manutenção da mesma experiência.
Psicologicamente, no que tange ao pensamento o homem ainda funciona dentro do mesmo padrão que seu ancestral mais remoto. Nossa evolução se deu no âmbito da ferramenta, evoluindo para a tecnologia, incluindo nossa linguagem.
Mas, nosso padrão de posse territorial, de conquista, de guerras, de violência continua o mesmo. O desejo cristalizado na mente.
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REBANHO
Parafraseando Nietzsche, desde que existiram os homens houve também os rebanhos, e a moral de rebanho, onde muitos obedecem em relação a um pequeno número que mandam.
E a obediência é a coisa mais exercitada, cultivada, tornando-se até inata. A obediência como um instinto gregário tornado em necessidade. A necessidade de obedecer a uma espécie de consciência. O você deve! O dever como o cumprimento e a saciedade no psicologismo individual. As metáforas da contradição psicológica freudiana de um Id, um Superego pressionando o Ego, Cabe ao Ego o exercício da obediência na arte da saciedade entre polos aparentemente tão distintos e contraditórios.
E por não termos nas nossas contingências sociais criado tal Ego, ainda vivemos das intermediações morais de clãs, comunidades, tribos, Estados e Igrejas e suas legítimas representações humanas, pais, mestres, leis, preconceitos de classe, opiniões públicas, políticos, padres e pastores.
Em suma, a hipocrisia moral dos que mandam. Uma espécie de vacas adornadas que já não produzem bom leite. E aparecem como executores das ordens mais antigas como se fosse as boas Novas do Evangelho. Máximas de rebanho, modo de pensar de rebanho, aparecendo como os primeiros servidores do povo ou instrumentos do bem comum.
O homem de rebanho é ainda a única espécie de homem permitida, glorificada na sua mansidão tratável e útil ao rebanho. A hipocrisia humana disfarçada no espírito de benevolência, modéstia, espírito comunitário, moderação e compaixão. A democracia. ao qual cabe a todos a obediência ao carneiro líder.
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A DESCRIMINALIZAÇÃO DA MORTE
“Deixa os mortos sepultar os mortos” (Lucas 9:60)
O homem vive no tempo e a invenção do futuro é o seu jogo favorito de fuga.
Adiamos a morte porque adiamos a vida.
Os nossos problemas e sofrimentos se situam no nosso processo do vir a ser.
Por não vivermos no presente, aprendemos que a morte é algo no futuro.
Por desejarmos à permanência a morte se tornou nossa inimiga.
Por acreditarmos na culpabilidade, a morte se tornou a sentença e o carrasco da vida.
Por acreditarmos no perdão a morte se tornou a porta de entrada do paraíso.
Por necessitarmos de espaço e renovação, a morte é a operária da transformação.
Por termos o pensamento fragmentário separamos a morte da vida e lhe rendemos homenagem separadamente.
Tememos a morte por que tememos o novo.
A padronização, o conforto do supostamente conhecido nos dá a ilusão da segurança, por mais nociva que seja a sua realidade no cotidiano da vida.
Experimentar o diferente nos trás a culpa decorrente da crença na infidelidade para com o usual. Não precisamos cometer suicídio físico, a morte é uma programação da vida. Mas quantas vezes não passamos pelo suicídio emocional no processo de autocompaixão pelo egoísmo da permanência.
A morte se torna um problema, pois nosso pensamento em sua imagem a transforma num problema.
A imagem da perda, a imagem do passado, a memória ruminando na lamentação, o pensamento girando na continuidade do tempo.
E o pensamento cria todo tipo de misticismos e crenças como solução ao desconhecido. Gastamos mais energia na manutenção da memória do que na criação do novo. Sofremos por não querermos perder e culpamos a morte.
O programa de memória do eu tem medo da morte, pois acredita que a mudança de paradigma é o seu fim.
A vida como um costume pode se transformar num sepultamento vivo e levar ao desespero do novo, transformando a morte em uma porta de libertação.
Não devêssemos temer e criminalizar a morte, mas a violência para com a vida.
E a morte em uma sociedade de consumo é o grande nicho de mercado. A abusiva violência do valor que os produtores dos rituais do fim praticam, mas isto é outro caso.
Quando separamos o viver e o morrer criamos um intervalo de tempo que gera o medo. Então tenha uma boa vida e uma boa morte.
Nossa mente deve morrer todos os dias psicologicamente para abrir espaço ao novo. Saiba viver e morrer. Tudo que existe está fadado ao fim que é o começo.
“Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer produz muito fruto” (João 12.24)
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O HOMEM E A SUA IMAGEM
Do Parecido ao Igual e o semelhante, a sutileza das formas.
Nosso pensamento funciona através da imagem. As simbologias que são imagens. A linguística que são imagens símbolos. As metáforas, histórias imagens que contém mais imagens verdades intrínsecas. Da poesia, imagens do sentimento. As filosofias que tecem uma imagem do conhecimento. As religiões que são simbologia e imagem do transcendente. A ciência , imagens de uma realidade empírica. A moral, imagens valorativas entre o certo e o errado. Tudo gerado pela comparação, que é nosso maior condicionamento para uma realidade do pensamento. Visões aproximadas de uma realidade. O pensamento fragmentário que não consegue abarcar o todo nesse processo comparativo. Assim, não sabemos lidar nem com as “igualdades”, quanto mais com as “diferenças”.
Psicologicamente nossas identificações são com imagens. Religiosamente nossa adoração é através da imagem. Esteticamente nossa busca pelo “belo” é através da imagem. Fisicamente nos reconhecemos pela imagem. Moralmente, lutamos por uma imagem.
Um ser desprovido dos olhos ainda teria seu mundo de imagens?
Nosso pensamento é imagem. Nossos sentimentos são imagens físicas. Nossa memória são imagens no tempo. Talvez por isso Deus tenha proibido a adoração de imagens, a não ser aquela que representasse fielmente a dele.
Narciso sucumbiu ao ver sua imagem refletida na água. E o quanto a indústria da imagem lucra, pois pagamos qualquer preço por uma boa, uma bela, uma apropriada, pela perfeição da imagem. Quantas guerras, quantos processos por difamação, por uso indevido, por apropriação da imagem.
Vivemos num mundo da imagem com uma imagem de um mundo.
Seriam as dimensões realidades refletidas na luz, ou projeções da luz nas sombras das nossas realidades?
Podemos um dia falar das nossas projeções, quer no outro, nas coisas, nas idéias. Mas como no mito da caverna vemos apenas as sombras projetadas nas paredes. Você já se olhou no espelho hoje? Você é parecido, igual ou semelhante?
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O QUE NOS UNE NOS SEPARA
As diferenças culturais são difíceis de resolver enquanto estruturam o pensamento e justificam a violência contra o outro.
Diz-se que o pensamento neo conservador criou a noção de que os povos árabes são intolerantes dando pouco valor à democracia. Uma ideologia transmitida pela mídia, infestando a maioria dos jornais do mundo ocidental como se fosse uma verdade cientifica religiosamente inabalável. É necessário a conquista, não importando o número de vidas e o sofrimento. Isto é visto apenas como efeito colateral de uma verdade maior que necessita ser implementada a todo custo. A verdade democrática, que corre perigo ante a realidade muçulmana.
Do lado oposto o mesmo padrão de pensamento está agindo.
Há séculos utilizamos deste mecanismo neural como fórmula de origem e criação e destruição das nações.
As padronagens de comparação que determinam o que é diferente atuam reforçando e justificando o direito, a destruição e a posse territorialista, financeira, individuais e coletivas no mesmo seguimento neural.
As verdades religiosas causam mais dificuldades por serem disseminadas e dissimuladas pelo pensamento como algo imaterial, não oriundas do pensamento, divinas, dadas por entidades superiores e inquestionáveis na construção de toda uma mitologia envolvida pelas teias dos tabus e medos. E dentro desta hierarquia os governos se apresentam como representantes legais, morais e tangíveis desta imaterialidade. Nossos deuses são tão violentos quanto nós mesmos. Necessitam de sacrifícios para a sua existência. Nossos deuses são tão contraditórios quanto nós mesmos no amor à destruição como manutenção e geração da vida.
A elite que os governa faz uso do poder de manipulação das massas entendendo essa construção do pensamento. Se colocam acima do bem e do mal na imposição da sua ideologia mantendo seu status de dominação.
Qual a diferença entre o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, Obama dos Estados Unidos da América, os potenciais aliados americanos e o regime de Damasco (Síria) e Bashar al-Assad?
Com a apresentação de “provas incontestáveis” que foi o governo de Bashar al-Assad que utilizou armas químicas contra os rebeldes, o aval das Nações Unidas, respiraremos tranquilos por não considerarmos intervenção militar contra o regime de Damasco (Síria) e Bashar al-Assad “uma agressão”.
A construção da violência já existe, justificando-a ou não. Enquanto se procura dados que oficializem a punição dos supostos responsáveis pelo uso de armas químicas, houve morte de 1420 pessoas nos arredores de Damasco de acordo com número dos EUA.
Na tergiversação dos governos o que subjaz a dinâmica das justificativas ideológicas é a preocupação econômica.
Na economia dos deuses os sacrifícios são a moeda de troca para a manutenção divina.
A China advertiu nesta quinta-feira que uma intervenção militar na Síria vai prejudicar a economia mundial e elevar o preço do petróleo.
Mais do que uma intervenção real, no jogo da guerra os americanos tem interesse em abrir caminho para a China.
De acordo com um documento emitido em abril deste ano e vazado pelo ex-analista do órgão Edward Snowden, a política externa, o comércio exterior e a estabilidade econômica do bloco europeu são objetivos prioritários da vigilância da agência.
Entre os principais alvos de espionagem norte-americana aparecem a China, a Rússia, Irã, Paquistão, Coreia do Norte e Afeganistão.
Se os países ocidentais querem intervir para derrubar os governos antidemocráticos do Oriente Médio, o que os impedirá de tentarem derrubar o governo comunista da China?
Diferentes dos problemas enfrentados pelos governos de países do Oriente Médio, as questões chinesas derivam do rápido crescimento econômico e da dependência do petróleo.
“Uma ação militar teria um impacto negativo sobre a economia global, especialmente sobre o preço do petróleo — vai causar um aumento no preço do petróleo”, disse o vice-ministro das Finanças da China, Zhu Guangyao, antes do início das negociações dos líderes do G20.
Se os países ocidentais decidirem intervir para derrubar os governos antidemocráticos do Oriente Médio, raciocinam os líderes chineses, o que os impedirá de um dia tentar derrubar o governo comunista da China?
Segundo Andrew Browne, os conflitos no Oriente Médio destacam para a China a realidade da existência de uma única superpotência no mundo hoje: os Estados Unidos.
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PRÍNCIPE GANHA COROA
Príncipe também ganha “coroa”.
O príncipe William representa tudo que uma pessoa gostaria de ser. Possui nobreza real, riqueza, noiva charmosa e bonita, boa saúde, porte na sua estatura, mas como todos os mortais há algo que tem cada vez menos: o cabelo.
A perda prematura dos cabelos é algo que nem a realeza escapa, aproximando-a dos simples mortais. Os tabloides britânicos são impiedosos com a calvície real e constantemente fazem todos os tipos de piadas e trocadilhos. “A calvície prematura de William é facilmente resolvida, basta que imite sua avó que gosta de usar chapéus e bonés.”
A dificuldade para quem sofre a perda dos cabelos deixa qualquer um de “cabelos em pé”, pelo menos enquanto os possui. Ao longo de nossa história capilar o preconceito sofrido pelos calvos ou pelos que estão ficando é assunto recorrente datado de tempos remotos.
A Bíblia relata o episódio (II Reis: cap.2 – vers. 23 e 24) onde o profeta Eliseu sofre discriminação por ser calvo. Jovens zombaram da calvície do profeta e sofreram a punição de Jeová sendo despedaçados por dois ursos. E a mesma tradição ainda ocorre nos tempos atuais, mesmo não tendo poderes de invocar a punição divina os carecas sentem este estado em seu próprio pelo, ou na falta dele.
Outro mito baseado na história bíblica com relação ao cabelo é a questão da virilidade e força masculina associadas ao mito de Sansão, o destruidor dos filisteus. No livro de Juízes capítulos 13 a 16 a força e virilidade de Sansão é contingente a sua manutenção capilar. Um nazireu não podia cortar o cabelo, pois este era um dos símbolos notórios de sua chamada. E quem conhece a história sabe o fim trágico de Sansão ao ser enganado por Dalila tendo os seus cabelos cortados, perdendo sua extraordinária força, sendo capturado e sofrendo todo tipo de escárnio.
Existe a crença que o excesso de testosterona provoca a queda de cabelo, logo os carecas possuem mais potência sexual. Sabemos que não há nenhuma ligação entre o desempenho sexual, a queda do cabelo ou a manutenção do mesmo.
A calvície não é determinada pelo aumento na produção de hormônios e sim pela quantidade da enzima 5-alfa-redutase, determinada geneticamente, nada tendo a ver com impotência ou virilidade.
O mito do cabelo como condição de beleza masculina ainda direciona as preferências sociais pela manutenção das fartas cabeleiras. E deste a antiguidade o que não se tem feito para a manutenção das mesmas? Papiros egípcios com mais de quatro mil anos já citavam a anatomia do couro cabeludo e fórmulas mágicas para a alopecia. E não ficaram somente nas fórmulas mágicas, mas através da invenção das perucas estabeleceu-se uma alternativa concreta para o problema da calvície.
Infelizmente, após todos esses anos de nossa relação capilar, ter ou não cabelos ainda é um condicionamento ligado a nossa auto-estima e a nossa segurança social.
E pessoas oportunistas têm aproveitado deste aspecto, utilizando dessa dificuldade para obter lucros ou alguma forma de dependência psicológica.
Contudo, nós como ente humano devemos rever nossa posição em relação a estas questões, ampliando nossa forma de lidarmos com tudo isto, e principalmente nossos sentimentos neste entorno. A começar por entrarmos em contato com toda esta construção simbólica que determina nossas afecções com a perda, seja relacionada aos cabelos, ou qualquer outra atividade de nossa vida.
A felicidade não pode ser encaixotada apenas a um modo, a um padrão reducionista na complexidade humana.
Não apenas dos carecas elas devem gostar mais, e nem a cabeleira do Zezé deve determinar o que ele é. Carecas ou cabeludos não sejamos motivos de chacotas. Que aja respeito humano pela multiplicidade de manifestações na nossa construção biopsicossocial. É muito fácil falarmos de amor enquanto no cotidiano das nossas relações, nos comportamentos mais simples agimos de forma a causar insegurança que gera toda esta violência que estamos acostumados. Príncipes ou plebeus, ninguém estará seguro mediante o estabelecimento desse tipo de comportamento discriminatório e excludente. Que o nosso presente não repita o passado. Para muitos ser calvo é visto como um problema, assim como para tantos outros o cabelo também se torna uma dificuldade. Criamos uma imagem do que pensamos ser, ou do que deveríamos ser e este retrato nos impede de vermos quem nós realmente somos.
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O PREÇO DO VIBRADOR
História curiosa na educação é o caso de um professor de matemática que dava aulas na rede estadual de ensino em Cascavel, no oeste do Paraná, e foi afastado nesta sexta-feira (16) suspeito de pedir aos alunos para que resolvessem um problema. Na questão, ele usava as palavras “vibrador, camisola e sex-shop”.
Não paramos para calcular o preço da orientação sexual que temos dado às nossas crianças, adolescentes e jovens.
Enquanto ficamos moralizando um assunto tão natural tratando nossa sexualidade como algo anormal, repleta dos tabus , proibições e polaridades, criamos humanos neuróticos, a mercê da dominação de lideranças radicais e fundamentalistas na orientação sexual, causando o sofrimento que tanto temos vistos nos outros e em nós mesmos. É chegado o momento dos educadores, governos e família revisarem suas próprias orientações e propor algo novo em termos de educação e orientação sexual.
A religião trouxe o tema demonizando-o, inserindo a culpa e o medo e determinando o padrão hétero machista.
Os governos que seguem a cartilha da família hétero normativa por questões do pragmatismo político e de manutenção do poder evitam tratar o tema de forma mais clara e abrangente. Quando alguém se posiciona é logo taxado de imoral e defensor de kits que não condizem com o padrão tradicional “normal”.
A mídia se aproveita do tema como forma de consumo e no geral mantém o status. Tudo que não é traduzido como o “natural da família tradicional hétero reprodutora torna-se marginalizado.
Temos criado marginais e nos marginalizado em termos da nossa sexualidade.
A compulsão ao erro, a proibição e o prazer pelo “erro” se tornou mais importante que o ato sexual. Desta forma continuamos criando este padrão doente de funcionamento social.
A energia sexual é a grande fonte de exploração social, psicológica, espiritual, politica e econômica da escravidão humana.
É necessário que os jovens saibam tudo o que existe em termos de sexualidade humana para que eles tomem posse da sua própria sexualidade de forma sadia e tranquila, sem compulsões, medo ou culpa ou mediadores que os explorem.
Como teremos uma sociedade neste molde, se o comércio dos nossos jovens e crianças parte deste condicionamento. A sexualidade humana tem sido usada como sistema de troca a muito tempo.
E o preço dos vibradores são vidas humanas na exploração das crianças nordestinas, no tráfico humano e no turismo sexual no Brasil e no mundo, na violência individual, social, religiosa. Isto já é uma matéria a ser discutida entre as crianças e jovens no ensino público e privado.
O Núcleo Regional de Educação afirmou que não foi o professor de matemática que ditou o texto contendo as palavras “vibrador”, “camisola” e “sex-shop”. Em uma atividade de grupo foram os alunos que elaboraram o problema. Sinal que já são orientados. A escola, as famílias e autoridades, pela polarização moralista não estão sabendo dar uma resposta educativa ao tema que surgiu naturalmente em uma atividade de grupo.
Freud , numa época que pensar sobre a sexualidade era algo inaceitável, trouxe uma luz sobre o tema apontando que a sexualidade é um fenômeno advinda desde o nascimento como algo inerente ao sujeito, uma energia necessária que o impulsiona à vida.
Logo, o primeiro problema que o jovem enfrenta não é a sua sexualidade, mas as imposições que os adultos colocam em relação ao curso normal de se traduzir esta sexualidade em comportamento, a cópula. A doença está nos adultos que a transmite para as crianças como uma imposição social que suprimi a naturalidade da energia sexual da criança. A sociedade proíbe a expressão normal da energia sexual desde a mais tenra idade.
As crianças já estão prontas para receber orientação entre os quatro e cinco anos de idade, e a adolescência só é conturbada por que o moralismo adulto fomenta esta perturbação. Nesta idade a criança já está apta para entender o que significa o ato sexual, não devendo o adulto colocar as genitais como tabu para a criança.
Neste processo de socialização a criança deveria aprender a como manifestar a sua sexualidade em jogos que a ajudem depois entrar na forma moral como a sociedade vai cobrar da mesma o comportamento de cópula. Neste período como temos ensinado nossas crianças?
É no “bla´, blá ,blá” de uma psicologia moralista que ajudando a efetivar as normas controladores sociais apenas proíbe o adolescente de seguir o curso normal da sua expressão sexual descarregando a energia no ato normal da cópula. A sociedade e as instituições morais se apropriam dessa energia e violentam o adolescente.
O processo de adolescer é a dificuldade do sujeito de expressar a sua sexualidade pelos tabus morais impostos pela família patriarcal.
O famoso complexo de édipo, nome dado por Freud, pelo fato do adolescente não poder ter a mãe como objeto sexual como tinha nas outras fases, e nem mesmo poder expressar isto na forma natural com outros sujeitos, pela proibição moral.
O Luto não é pela perda da infância mas pela perda da possibilidade de expressão de sua energia libidinal.
A imaturidade é dos adultos que impõem a mesma forma de imaturidade para o adolescente, em regras discrepantes com a naturalidade da expressão da libido neste período
Óbvio, que a única coisa que o adolescente quer é expressar a sua sexualidade e está sendo impedido por adultos infantilizados sexualmente, carregando todos os tabus que as instituições morais da sociedade lhes impuseram como forma de controle.
Os pais e educadores precisam entender os fenômenos aos quais são comuns em todos os períodos, da infância ao adolescer para que possam amenizar as tribulações pelas quais atravessam os jovens e consequentemente os próprios pais em sua formação hétero machista e as novas formas de informação ao qual são submetidas as crianças. Só desta forma poderemos acabar com doenças sexualmente transmissíveis, as compulsões sexuais como abuso infantil, estupros, prostituição e tráfico humano.
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LOUCO É ‘NÃO EU’
Identificar o outro como louco abre um campo de abuso de poder, intolerância e violência.
As culturas sociais determinam os parâmetros tanto da normalidade quanto do que é categorizado como anormal.
No trabalho do filósofo Michael Foucault (1926-1984), a História da loucura na Idade Clássica, o termo “loucura” é a desqualificação do outro. A desqualificação como marco diferencial em relação ao que define a identidade de uma pessoa e até mesmo de uma cultura.
O nosso pensamento ainda funciona nos moldes da imagem, e da comparação, e tudo que não reconhecemos como parecido ou dentro do nosso padrão é taxado como anormal.
Este é um tipo de mecanismo condicional presente em toda humanidade, e serviu como meio de sobrevivência.
O uso do termo “louco”, ou “loucura” pode funcionar de diversas formas, dependendo da imagem que criamos em relação àquilo que consideramos fora da normalidade.
E hoje, num mundo extremamente capitalista, não observamos as “loucuras” que somos obrigados a fazer em relação a sobrevivência do mercado.
Mas, o louco nunca sou eu.
E a forma dos padrões de “normalidade” a nós apresentado são carregados da moralidade que julga e determina o que é “normal”.
Sob o amparo de uma “lei natural”, uma natureza não construída pelo pensamento humano. O pensamento humano se apresenta sempre como natural no sentido de não ser construído, como se sempre existisse e fosse irrefutável e ainda como se não fosse ele que estivesse fazendo este processo.
E nos travestimos de personagens que são modificados a medida que temos o feedback social na cultura da normalidade. E chamamos de insensato aquele (ou aquilo) que não entendemos, que não atribuímos “sentido”, que não conseguimos fazer as relações.
Mas, a partir do momento que nomeamos, temos a posse do fenômeno e consequentemente a imagem da tranquilidade. Desta perspectiva, é comum que quando surge a denominação de louco sejam acionados mecanismos de exclusão simplesmente porque uma pessoa (ou um grupo) pensa de forma radicalmente diferente da nossa ou não compartilha nossos valores morais ou religiosos.
Identificar o outro como louco é abrir um campo de abuso de poder, intolerância e violência.
Diferentemente do ato, ou do comportamento visível, a humanidade tem que aprender que ela criou um mundo da dualidade entre a ideia e o fato. Será que nós humanos somos tão diferentes assim? O que nos diferencia são esteriótipos linguísticos, estéticos, religiosos, sexuais, servidos num baquete multifacetado ou sobre o prisma da nova moral da diversidade humana que em essência a finalidade é a mesma. O que todos queremos?
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