Governo inglês aprova inseminação que pode gerar bebês com “três pais”
Há muito o conceito de família tradicional reprodutiva está sendo remodelada. Desde a criação da pílula que libertou a mulher para a sua sexualidade, os avanços da ciência em relação a fertilização, os bebês de provetas, a possibilidade da barriga de aluguel, a clonagem e agora o Reino Unido pode se tornar o primeiro país do mundo a aprovar um tratamento de fertilidade que utiliza material genético de três pessoas para evitar certas doenças hereditárias incuráveis.
Sem falarmos que em diversos países a possibilidade de adoção por casais homoafetivos que altera o padrão tradicional da família reprodutiva.
E futuramente quem sabe com a capacidade de clonagem, qualquer um poderá gerar um filho literalmente a sua imagem e semelhança.
A sociedade deve começar a repensar o seu conceito de família.
Por muito tempo a família tradicional hétero reprodutiva tem sido o único modelo do sistema. O medo de uma mudança passa não apenas pelo âmbito da moral tradicional historicamente enraizada nas tradições religiosas, mas também no modelo de família compulsiva que alimenta o mercado.
Esses são os grandes focos de discussão em torno de uma ética familiar sempre que novidades científicas se apresentam.
Se a família tradicional já não se apresenta como única forma viável diante das mudanças sociais, é necessário repensarmos a unidade familiar de forma a não imputarmos apenas o modelo hétero normativo reprodutivo como única forma possível.
Críticos afirmam que a técnica pioneira de fertilização in vitro é antiética.
O Reino Unido pode se tornar o primeiro país do mundo a autorizar um tratamento de fertilidade que utiliza material genético de três pessoas para evitar certas doenças hereditárias incuráveis, depois que a ideia recebeu o respaldo do governo.
O ministério da Saúde britânico redigirá as novas normas relacionadas à polêmica técnica de fecundação in vitro (FIV) e as submeterá a uma consulta pública antes de apresentá-las ao Parlamento, para um debate em 2014.
O procedimento, que pretende evitar que as mães transmitam aos bebês graves doenças genéticas, consiste em substituir o DNA mitocondrial anômalo do óvulo materno pelo DNA mitocondrial saudável procedente de um doador para criar e fertilizar o óvulo reconstruído com esperma do pai com uma FIV clássica.
“Os cientistas têm desenvolvido novos procedimentos inovadores que podem deter a transmissão destas doenças, o que dá esperanças a muitas famílias que buscam prevenir que seus futuros filhos as herdem”, declarou a assessora médica do governo britânico, Sally Davies.
“É correto que busquemos adotar este tratamento que pode salvar vidas o mais rápido possível. O que vamos fazer agora é começar a desenvolver a regulamentação, a consultar sobre ela para depois levá-la ao Parlamento”.
Um em cada 200 bebês nasce a cada ano no Reino Unido com uma forma de enfermidade do DNA mitocondrial, ou seja, uma patologia que afeta as estruturas que permitem proporcionar energia à célula.
Nos casos mais graves, as anomalias podem resultar em doenças como a síndrome MELAS, a síndrome MERRF, a síndrome NARP e a neuropatia óptica hereditária de Leber.
A autorização do procedimento, atualmente proibido por lei, constituiria um avanço radical na área porque permitira alterar a linha genética germinal.
Os bebês nascidos com esta técnica compartilhariam DNA com três pessoas, seus pais e o doador, mas apenas 0,1% procederia desta última pessoa.
Além disso, seriam parecidos apenas com os pais porque as características humanas estão codificadas no DNA do núcleo da célula.
Caso seja autorizada, os especialistas indicam que apenas de cinco a 10 bebês poderiam nascer a cada ano por meio da técnica no Reino Unido, onde quase 12.000 pessoas vivem com patologias mitocondriais.
Procedimento estará disponível para casais em até dois anos.