RELIGIÃO E SEXUALIDADE
A visão ética da religião tradicional em relação a sexualidade não mudou. A única forma correta admitida pela igreja é a heterossexualidade. Todas as outras formas de manifestação da sexualidade são considerados desvios, pecados, possessão de espíritos malignos. Qualquer outra forma de manifestação da sexualidade que não seja a heterossexualidade também é visto sob o prisma moral da igreja como imoralidade e do desvio de caráter. E na mesma visão ética da igreja aplicada a ciência, ou a ciência fundamentada sob a perspectiva da ética da religião qualquer manifestação da sexualidade não sendo de construção heteronormativa é considerada uma doença, perversão ou desvio de personalidade.
Possíveis Curas:
. Em relação a possessão por qualquer espírito não hétero – exorcismo que subtende-se cura imediata.
. Em relação ao pecado da não heterossexualidade – arrependimento e busca de santidade. Não quer dizer que a pessoa será um hétero, mas terá que usar do arrependimento e da busca de santidade como algo constante até a morte física para finalmente adquirir a total libertação. Concepção de paraíso, livre da sexualidade não hétero normativa. Pode ser traduzido como abstinência sexual ou como na igreja, celibato. A sexualidade como um espinho na carne na visão paulina. O sofrimento como abnegação e glória do ego.
. Em relação a doença, perversão ou desvio de personalidade da ciência sob o comando ético da igreja – um psicanalista com direito ao receituário, antidepressivos, ansiolíticos, e qualquer medicamento que diminua a libido. Psicólogos com terapias que alterem o comportamento sexual desviante da ética hétero normativa. Ambas as terapias são crônicas por se tratar ainda de uma doença crônica.
Em todos os tratamentos os efeitos colaterais são dependência crônica.
Repensando Religião e Sexualidade
Apesar de algumas divergências entre católicos e protestantes,ambos compartilham a sexualidade de forma reproduzir o conceito de família hétero tradicional reprodutiva.
E em pleno momento de muitas mudanças na cultura social em relação a sexualidade, a visão do Cristianismo continua a mesma em relação a sexualidade humana, pautada em alguns textos que acreditam ser a base de uma ética comportamental não refletindo mais os padrões psicológicos, sociais, científicos do nosso tempo.
Esta é a causa de muito sofrimento para muitos que dão crédito a esta concepção decorrente do assédio religioso e da visão condicionada da família tradicional reprodutiva.
Para reconhecermos a dimensão deste sofrimento humano que ao longo da nossa história da sexualidade e a religião envolveu questões como: a obrigatoriedade do celibato dos padres (inexistente até ao século XI) e freiras, a condenação da contracepção dita artificial, da homossexualidade, da masturbação, das relações sexuais pré-matrimoniais, do recasamento dos divorciados são, só por si, motivo mais que suficiente para séria e madura reflexão.
Dentro de uma análise dialética entendo que a sociedade é produto do homem e o homem é produto da sociedade, a religião faz parte da sociedade, ela é uma construção do homem que vive em sociedade.
Este processo dialético envolve o homem a sociedade e a religião, cada um exercendo seu papel, porém, interligados entre si e contribuindo para as legitimações sócio-culturais.
Enquanto o mundo dos animais é fechado em termos de possibilidades, pois cada espécie vive no seu ambiente especifico, o homem vive em um mundo aberto, um mundo que ele deve modelar.
Ao colocarmos qualquer conceito como algo fechado, como fazem todos aqueles que acreditam no fim da manifestação de Deus como um plano definido, destruímos todas as outras possibilidades de fenômenos no mundo.
Para o homem que busca a tranquilidade da certeza em uma fé fechada a crença fechada em Deus, além de determinar um Deus absolutista, destrói toda possibilidade de manifestações do divino em outras instâncias da vida.
Toda religião nada mais é que o construto do pensamento humano de forma a ter algo que o proteja daquilo que acredita ser misterioso ou temeroso. Do medo de sair do conhecido para o desconhecido.
O homem já atribuiu tantas coisas como sagradas, desde objetos de poder com status de sagrados, crenças em sacrifícios, comportamentos regulatórios no que tange a vida em sociedade. E a sexualidade por ser um dos comportamentos mais regulatórios e instintivos do animal humano não ficaria distante do sagrado na construção dos mitos.
A tendência natural é achar que as coisas são do jeito que sempre foram em todos os lugares e tempos. A sociedade se caracteriza pelas suas constantes mudanças. O modelo ocidental de família vem sofrendo profundas mudanças há alguns séculos, percebemos que: “O exercício da sexualidade também está se dissociando mais e mais das esferas da conjugalidade e da reprodução, em decorrência do desenvolvimento cientifico-tecnológico e da diminuição da influência religiosa, particularmente católica, no imaginário social dominante no Ocidente.” (MELLO, 2005,p.31)
As representações sociais relativas à família não devem ser pautadas em apenas um modelo. A forma como as pessoas se organizam já não é a mesma que na Idade Média.
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